terça-feira, abril 21, 2009

Última caminhada

Última caminhada

Caminho sobre o fraco sol do inverno, ventos a despentear os meus cabelos, sigo em diante, sigo a melodia da vida ao meu redor, noto, talvez pela primeira vez consciente, de cada detalhe que encontro enquanto ando, vejo e admiro em um parque folhas que caem de árvores, majestosas , belas. Flores que estão ali a espera do seu término. Noto nos brinquedos crianças com seus pais. O amor e dedicação nos olhos de mães aflitas que ainda não sabem como agir com seus filhos, e talvez nunca venham a saber. Casais enamorados, sentados com mãos entrelaçadas, beijos tímidos. Cachorros que correm , sabendo como nenhum humano sabe, aproveitar ao dia, simplesmente se deleitar com as pequenas coisas. Passo em seguida por ruas que se entrelaçam, me lembram tantas outras ruas por que já passei. Em uma delas uma livraria, nada de especial, nada de única, mas me lembra tantos bons livros que já li, tantas horas vivendo aventuras que somente as palavras podem trazer. Sento em uma cafetaria. Peço um café, que tanto me agrada, como diria um escritor "Negro como a noite, e doce como o pecado". E aproveito aquele momento, e escrevo , penso. Com meu celular ouço algumas músicas. Relembro tempos em que fui criança a brincar. Mas mais importante, neste momento não deixo de associar o que vi em meu caminhar, com minha própria vida. Das árvores e flores me recordo o meu gosto pela mãe natureza. O inverno, basta que diga, é o tempo que mais gosto, é o tempo em qual me encontro, me dedico a escrita, me dedico a pensar. E enamorar-se? Quem nunca se enamorou não perca tempo. Apaixonar não é somente bom é necessário. Lembro de uma garota que conheci em uma praia, acompanhado da minha família, assim como ela com a dela. Mas por motivos que ainda não o sei, nós gostamos de conversar. E um com o outro saímos em uma caminhada, outra que não esta. E com ela descobri afinidades, descobri desejos comum. A caminhada virou uma semana, que logo se tornou duas. Caminhamos debaixo de uma chuva fina, observando esculturas de areia. Paramos em bares, aonde nada mais interessava além de nós mesmos. Trocamos presentes, que hoje se perderam na margem do tempo. E por fim, nos despedimos com beijos e lágrimas debaixo de uma chuva torrencial. E quis então o destino que nunca mais nos víssemos. E ali naquele café, não chorei um passado que não vivi, ao contrário agradeci, ter tido uma chance como esta, que mesmo com pouca duração, é única, e sempre vai estar viva na memória. Lembrei - me também de meus amigos. De quantas vezes já não subimos montanhas, com um violão, muita loucura , bebidas, para virar a noite e ver o sol nascer. Quantas bobagens ditas no perder da noite, que nos fazem a alegria. Uma mesa de bar, uma pessoa nova, um motivo para sorrir. Todas as músicas que escutei com amantes e namoradas vieram a mente. Por que sim, existe uma música que lembra a uma pessoa, por bem ou mal, sempre existe uma música para cada momento. Os animais que tive, gatos , cachorros, passáros , tudo me vinha. Todas as lembranças. Mesmo as de brigas que tanto tempo levei para reprimir. Brigas com mulheres que poderiam se tornar muito mais do que foram. Com amigos, em que a desculpa ficou presa na garganta, e por medo e receio, foi-se o amigo a mudar, e a amizade com as bruscas palavras deixadas. Lembro - me da primeira vez em que fiz uma mulher sorrir, foi também a primeira que jurei amar. Lembro dos trabalhos pelos quais passei. Nem todos bons, mas todos acrescentaram algo ao meu viver, por que para aprender algo basta esta vivo, e para amar basta olhar para os lados de vez em quando. E prestar atenção sempre, por que a oportunidade pode estar ao seu lado, mas de nada vai adiantar de você não olhar. Peço mais um café, no clima da nostalgia. Meu caderno que deveria estar cheio não passa de espaços em branco. Em casa, abro um bom vinho, aqueles que se abrem em ocasiões especiais. Bebo, lentamente, deixando cada gole ser apreciado com a calma de quem tem todo tempo do mundo. Começo a escrever as linhas que se fazem acima, e imagino o que mais posso escrever. Tantas experiências, tanto viver. Mas não consigo. Pois caem lágrimas de meus olhos. Não consigo evitar o choro que havia reprimido. Deixo as lágrimas secarem. E quando já não mais consigo chorar, volto a escrita. Escrevo os agradecimentos a todos os amigos, presentes e ausentes, a toda a família que sempre esteve comigo, a todos os amores. Escrevo minhas lembranças. Escrevo e agradeço a vida. Não existe vida que seja inteiramente boa, o segredo é conseguir passar pelos maus momentos e aproveitar os bons como se fossem únicos. Caminho com esta carta, escolho um livro , um dos muitos em minha estante, um dos que prometi a um amigo , e o fiz prometer que levaria para ele, mesmo quando este se recusou a aceitar o presente. E que sei que ao fim, ele irá levar. Deixo dentro do livro, por que não contei a ninguém ainda, e sei que não terei tempo para isso, da doença que me aflige. E sei que terei tempo, pois do tempo determinado pelo médico, já estou com um dia a mais, talvez não consiga nem chegar ao livro, talvez chegue ao fim da semana, mas é provável que tudo acabe em pouco tempo. E por isso, pra você meu primeiro leitor com seu presente fica esta carta. O livro é seu, a carta é para todos, um pedido de desculpas por não ter contado a tempo; e também para ela, para que saiba o quanto a amei, e por que me ausentei da vida dela , sem explicações. Não queria que sofresse mais do que já irá sofrer. E me despeço por fim, por que não, usando as palavras de uma banda que sempre ouvi. A todo o mundo, a todos meus amigos, eu os amo, eu vou partir... Adeus.



Explicações:

Aos desavisados, que chegaram ao fim da carta. Ela é fictícia, misturo alguns fatos reais claro, mas não precisam ligar, nem se preocupar, e assim por diante. É apenas um conto, mas neste caso usei de nostalgia e ideias góticas. Nem todo conto pode agradar a quem vá o ler. Portanto não se assustem. No próximo tento outro estilo.



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Now playing: Magnet - Be With You
via FoxyTunes

Um comentário:

barbarella disse...

Megadeth!

Ow... foda!! Perfeitoso mesmo!

"A tout le monde, a tout mes amis, je vous aime, je dois partir... these are the last words i'll ever speak... and they'll set me free..."